quinta-feira, 24 de abril de 2008

VILA NOVA DE PAIVA

Começo pela viagem. Hoje chega-se a Vila Nova de Paiva (a partir de Aveiro) em apenas uma hora e pouco. As estradas trouxeram para perto aquilo que sempre esteve longe. E isso é bom. Estive na vila e no parque botânico que já conhecia. A vila tem um excelente auditório e foi lá que decorreram as palestras do Astropaiva. Falou-se de choques de galáxias, do Sol tranquilo e não faltaram perguntas da assistência. Coisas curiosas de gente interessada. Algumas disparatadas, mas outras com todo o sentido. Faltaram foi mais palestras para preencher as horas mortas. Depois fomos todos para o parque botânico para ver o Sol e o céu á noite. O Sol mostrou-se limpo e durante um bom bocado por trás das nuvens, mas a noite não defraudou as expectativas. E lá estivemos entretidos a andar pelo céu com o laser verde ou a espreitar pelo telescópio. Ou a projectar na parede branca. Coube-me a mim a animação da noite e acho que cumpri bem o meu papel. Poucos resistentes ficaram para o fim. Eu e pouco mais. Mas ainda vimos o Touro nascer com o Marte ao lado. Mas no fim há sempre uma despedida. Dos amigos que só encontramos nestas coisas. Das noites quentes de Verão. Dos bons momentos que passei por aí. Dos dias claros e azuis. Ainda duram, mas em breve a hora muda e os dias encolhem. E tudo fica mais triste na inevitabilidade do Inverno ou do Outono que o precede.

Brazão da vila

Armas - Escudo de azul, com uma espiga de trigo de ouro acompanhada por duas trutas de prata com manchas de ouro e vermelho no lombo. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com a legenda a negro : " VILA NOVA DE PAIVA ".

Brasão do Município de Vila Nova de Paiva

O Juiz de Barrelas

Segundo os investigadores, consta ter sido nesta aldeia de Fráguas que viveu e passou a lenda um famoso juiz eleito pelo povo e confirmado pelo rei. O Juiz de Barrelas.
(...)

Que o Juiz de Barrelas era homem desempoeirado e sem papas na língua, capaz de se desenvencilhar do caso mais intrincado sem afectar a sua verticalidade e sempre «dizendo de seu» através de sentenças da sua lavra, tão oportunas quanto justas e por isso sábias.

Que o dissesse um Ministro que lhe escreveu a pretender que ele alterasse uma decisão que condenara um fidalgo de Peva por ter tentado abusar de uma criança, o tratava de maneira não respeitosa e a quem respondeu:

«Senhor Ministro:

Se o cargo que ocupo de Juiz eleito pelo povo, permite a Vossa Mercê tratar-me por tu, cuspo para o cargo; se a minha condição humilde mas honesta, permite a Vossa Mercê tratar-me por tu, cuspo para mim; mas, se nem uma coisa nem outra consentem semelhante linguagem, cuspo para o tratamento.

Peço, pois a Vossa Mercê me informe sobre estas particularidades, para saber ao certo se devo então, cuspir em Vossa Mercê.

Aqui, a justiça é feita em nome de El-Rei e para seu prestígio».


Na verdade a justiça de El-Rei saiu prestigiada, que ainda hoje se fala dele como exemplo. E se conta a história de um assassinato por ele presenciado e por isso inteiramente conhecedor de quem era o criminoso, mas sem que pudesse intervir.

Acusado um inocente, contra quem se erguiam falsas mas avultadas provas circunstanciais e impedido de testemunhar em virtude das suas funções, o Juiz de Barrelas resolveu o caso com a notável sentença:

«Vi e não vi; sei e não sei; corra a água ao cimo; deite-se fogo à queimada; dê-se laço em nó que não corra, etc., etc...

Por tudo isto em face da plena prova do processo, condeno o réu na pena de morte -- mas dou-lhe cem anos de espera para se arrepender dos seus pecados. -- Cumpra-se!».

Juiz de Barrelas


(Inácio Nuno Pignatelli, in O Paiva, ou a Paiva... como também lhe chamam, pág. 71 e 72, Edições Afrontamento, Porto 1998)

A Ponte Velha de Vila Nova de Paiva, a antiga vila de Barrelas, na região do distrito de Viseu a que Aquilino Ribeiro chamou Terras do Demo. Quantas vezes terão o Juiz de Barrelas e Aquilino passado por esta ponte?

A SENTENÇA DO JUIZ DE BARRELAS...


Passou à história uma imaginosa sentença do juiz de Barrelas, homem justo tornado lenda, que usava sempre meias amarelas. Fora o caso de, certa noite, o magistrado ter assistido, sem poder intervir, à altercação entre dois homens, tendo um deles assassinado o outro. O povo, porém, acusou um terceiro, por sabê-lo desavindo com a vítima, e levou-o a julgamento. O juiz, que estava certo da inocência do réu, mas que não podia testemunhar devido às suas funções, proferiu então a seguinte sentença, digna de Salomão:
Vi e não vi; sei e não sei; corra a água ao cimo; deite-se fogo à queimada; dê-se laço em nó que corra... Por tudo isto e em face da plena prova do processo constante, condeno o réu na pena de morte, mas dou-lhe cem anos de espera para se arrepender dos pecados. Cumpra-se. Juiz de Barrelas.
E assim o juiz fez justiça e ao mesmo tempo salvou o inocente.